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Eu, António

Um encontro profundo entre as minhas viagens e a escrita, é o motivo para partilhar o que me faz feliz, com todos vocês.

Eu, António

Um encontro profundo entre as minhas viagens e a escrita, é o motivo para partilhar o que me faz feliz, com todos vocês.

Crónica do meu medo...

Entra um friozinho pela brecha da minha janela e os meus dedos quase congelam, uma vez por outra lá coloco a minha mão entre as pernas para não as deixar congelar completamente e assim solenemente continuo neste impasse de quase perder os meus pensamentos pelo tremelicar que se vai agravando à medida que noite avança e o frio é mais doloroso. 
Quero escrever qualquer coisa mas o tempo não me deixa, foram as memórias que me prenderam e a capacidade de escrever foi se perdendo, talvez. Tento escrever com força porque estou na flor da idade mas o tempo não me quer deixar escrever, mais uma vez a culpa é das memórias que me querem fazer escrever e a dor que sinto dessas memórias não me deixa faze-lo. Fora do meu quarto, tento imaginar o tempo pois não tenho janela e isso dói tanto, é uma prisão insuportável mas ninguém se dá conta do quanto isso me magoa, sim isso magoa profundamente a minha alma pois preciso de olhar para o vazio das coisas na rua para me sentir cheio do nada nas coisas completas. 
Tenho memórias doloridas gravadas em mim e sinto um pesar de consciência de algumas coisas que talvez não tenha feito correctamente. Que importa? Já passou e aprendi com tudo o que vivi. Mas vivo numa melancolia triste em mim que me perde por sinal de desespero e me provoca todos os dias. Tudo são recordações e por vezes esqueço-me de me recordar disso. É uma falha grave. São os erros pequenos que cometo todos os dias que me fazem não aprender. 
Não consigo escrever por medo, hoje é por medo que não consigo escrever. Que importa? Quem se importa? 

"António, gosto de ti." 

Lembro-me desta pequena frase e a dor aumenta pois as pessoas hoje em dia dizem as coisas sem as sentirem na verdade. Quem sofre é sempre o mesmo. 

"António, tu trastas-me muito bem, nunca ninguém me deu tanto amor" 

Quando me lembro desta frase, tenho medo de voltar a escrever porque quando escrevo, estou a libertar-me e a registar estas pequenas mentiras que me destruíram com o tempo. O tempo é tão duro e ainda não me tinha apercebido disso. O tempo passa e a consciência da vida aumenta, quando isso acontece, descobrimos coisas que não queremos descobrir e consequentemente sofremos pela consciência que temos da vida. 

 

 

"António, estou a imaginar a minha vida ao teu lado." 

Já não posso ouvir esta frase porque sempre que alguém me diz isso, eu acredito e sofro. Mas quem me diz isso, não se importa. Quem se importa? Como alguém pode brincar com os sentimentos de outra pessoa e não se sentir por momentos culpada pela destruição de uma vida? 

"António, afinal não quero estar contigo, tu és incrível mas não quero ficar contigo..." 

É a miséria. Fico magoado e no meu intimo não consigo perdoar-me por ter dado mais uma oportunidade à vida! Fico vazio com esta frase, uma dor aperta-me o peito e quase não consigo respirar pelo aperto que é de grande escala. 
Eu que trato bem as pessoas, e depois é sempre isto que acontece, é sempre isto que acontece, ou nada. 

"António, gosto de ti..." 

Tudo recomeça e eu tenho medo de acreditar. Escolho acreditar. Não posso desistir de ser feliz e de amar pois o amor está em mim mesmo nesta noite fria em que o gelo entra pela brecha da minha janela que não existe.

 

 

 

António Vieira Da Silva